sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Uma questão de segundos


Não sou propriamente um grande apreciador de passagens de ano. Dava já conta disso em Dezembro de 2005, aqui. Sinceramente não lhe encontro ratio nenhuma. Não tem sumo, não tem sentido último. Não marca, para mim, o fim de um ciclo e o começo de outro. Há outros marcos ao longo do ano que o fazem: o fim do ano lectivo e o início das férias, por exemplo. E o fim destas e início do ano lectivo subsequente. Faço mais balanços nessa altura.

Mas desta feita, a passagem de ano mexeu comigo. Diria até que o meu mundo ruiu como as Torrer Gémeas. Aquilo que aprendera ainda antes de entrar para a escola, talvez com a Rua Sésamo, e que me ajudara a formar enquanto cidadão responsável sofreu um grave revés: um minuto já não dura origatoriamente 60 segundos. O ponteiro maior do relógio já não se desloca necessariamente 60 vezes, na sua romântica e cíclica viagem, em que toca amorosamente o 1 depois de partir do 12 e saltita de número em número, passando o 3, o 6 e o 9, até chegar de novo ao 12. A areia já não se move à mesma velocidade na ampulheta. Os ciclos da natureza alteraram-se abruptamente para nunca mais se voltarem a acertar; até as gazelas têm o seu processo de crescimento completamente descontrolado e já não cambaleiam tão harmoniosamente após o nascimento.

E tudo isto porque uma quantas mentes brilhantes se lembraram que havia que acertar os relógios. Quanto tempo? Mais 2 horas? 30 minutos? Não... Um segundo! Ah, que diferença irá fazer esta mudança. Quantos comboios deixarei de perder, porque o meu relógio, agora sim, está certo....

Será que algum destes brilhantes cientistas que se lembram destas coisas já reparou que as pessoas não têm os relógios religiosamente certos uns pelos outros? Quando são 19h01 na SIC Notícias, na RTP N são 19h02. Ah, blasfémia!

Mas claro, quem sou eu para questionar as mentes brilhantes da Ciência? Se já o achava aqui, cada vez mais que convenço mais que o outro é que tem razão:

«O tempo não sabe nada
O tempo não tem razão
O tempo nunca existiu
É da nossa invenção

Se abandonarmos as horas para nos sentirmos sós
Meu amor o tempo somos nós»

Jorge Palma, O Tempo