Tremores e coisas assim

E o país tremeu. Rigorosamente não foi o país, mas como todos sabemos "Lisboa é Portugal" e se Lisboa treme... Portugal treme. No fundo não tremeu, apenas abanou um bocadinho mas as televisões portuguesas gostam sempre de fazer uma notícia sobre tudo. Só sobre a torrada do meio é que ainda não vi nada... mas não há-de tardar!

E o país tremeu. Durante 6 segundos. Os telejornais gastaram 30 minutos a falar do tema. Entrevistaram a senhora da limpeza do El Corte Inglés que estava a esfregar com muito força a retrete - sim, retrete, porquê? - e viu tudo a abanar... mas afinal o que estava a abanar era ela. Entrevistaram o "drógado" da esquina que via tudo a tremer vá se la saber porquê. Noticiaram com pompa o "maior sismo do últimos 30 anos em Potugal" ainda que não tenha passado dos 5 valores na escala de Richter (adoro ouvir a expressão "escala de Richter"). É muito comum pegarem num evento que muito raramente se regista e que, quando efectivamente acontece, é o maior, ou o mais dramático, ou o mais longo, ou o mais curto, dos últimos anos. "Caiu uma árvore de metro e meio na praça central de Santa Comba Dão em cima de um guarda-sol. Foi a maior árvore a cair na praça central de Santa Comba Dão em cima de um guarda-sol nos últimos 50 anos". "Este ano foi bissexto. Segundo os especialistas, foi o ano mais longo nos últimos 4 anos".

E o país tremeu. O Benfica foi eliminado pelo Varzim.

E o país tremeu. Alguém se lembra já que ontem houve um referendo? E pensar que andámos nós um mês a ouvir argumentos para no dia seguinte ao referendo se falar do maior sismo dos últimos 30 anos que não provocou nenhum dano, foi sentido por 15 pessoas no Algarve, 2 no Alentejo (as outras 3 que lá vivem não sentirem porque curiosamente estavam a dormir) e mais 4 em Lisboa. Conclusão: o circo acabou depressa!

E o país tremeu. Eu entrei para a equipa do Torrada do Meio!